domingo, 18 de maio de 2008

Sábado, 22 de março de 1982

Deitado no sofá da sala, às 4h da manhã,vejo a lua pela janela. Ela nunca esteve ali, não que eu tenha reparado. O céu claro e a noite fria, por alguma razão, me lembrou Jenny. Amigos desde cedo - grandes amigos- por uns tempos fomos grudados como unha e carne, até o fim do colegial. Na universidade acabamos nos separando, eu fui para uma mista e ela para uma somente de meninas, como no filme, mas sempre que dava eu ia visitá-la. Ao presenciar qualquer sinal de perigo corria para protegê-la e trocava os pés pelas mãos por diversas vezes, eu não pensava. Ela me dizia que eu tinha que pensar no futuro e encontrar alguma coisa para fazer, mas eu não sabia -ou talvez soubesse. Fui para o Vietnã: "corra quando se sentir em perigo", ela me disse. Na minha jornada conheci o Bubba, que conhecia tudo sobre camarões e ele queria que fôssemos sócios. Era meu melhor amigo. Morreu no Vitnã vítima de um bombardeio, eu voltei para buscá-lo e ainda lembro das últimas palavras que me disse. Na volta comprei o barco pesqueiro e o batizei de Jenny. O capitão Dan veio me ajudar, conforme havia dado sua palavra naquele fatídico dia de ano bom. E eu, novamente, pensava na Jenny, no que ela estaria fazendo, se estava bem; eu torcia para que tivesse bem e até rezava por isso. Rezava como naquele dia em que ela queria ser um pássaro. Ganhei um dinheiro e voltei pra casa, oenente Dan cuidava de tudo pra mim e a mãe de Bubba recebia metade do dinheiro, afinal eu e Bubba seríamos sócios "meio a meio, combinado?". Mas à noite, quando minha casa estava vazia e eu não tinha nada para fazer, eu pensava na Jenny. E um dia ela apareceu e pareceu que iria ficar para sempre, mas outra vez fugiu. Resolvi sair para dar uma corridinha e pensei que pudia ir mais além. Corri por 3 anos, 2 meses, 14 dias e 16 horas. Quando a reencontrei tive certeza de que era sim o que eu queria -e mais- era o que ela queria. Eu não sou um homem esperto, mas eu sei o que é o amor. 22 de março de 1982 não foi um sábado, foi uma segunda-feira, mas isso pouco importa...



Com amor, Forrest.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

Estava ansioso, aquilo me gerava sentimentos divergentes, num misto de amor, medo e prazer. O ronco forte anunciava sua partida. Lá dentro pouco se podia mover, tamanha sua força. Saiu rápido e logo ganhou novos ares. De lá podia ver toda a cidadee perceber o quão pequenos somos. Sobrevoamos algumas cidades litorâneas que pude identificar, atravessamos a fronteira e ganhamos o interior. Passamos por Capinzal também (era Capinzal, tenho certeza!). Balança pra cá, balança pra lá e pousamos. Tudo era maior do que eu previa. Aguardaria provavelmente uma hora até que pudesse me encontrar com o pai que vinha em outro vôo. Almocei e o tal vôo não havia aparecido. Já preocupado com possíveis atrasos ou problemas com o velhinho, procurei informações no guichê da companhia. "O avião estará pousando em 15 minutos lá em Congonhas, senhor". Estava perdido. Perdido numa cidade de mais de dez milhões de habitantes, sendo a maior do hemisfério sul. Guarulhos fica na zona norte e Congonhas na zona sul. Tomei um coletivo e segui rumo ao centro, Praça da República era o meu destino. Sabia que o hotel era por ali, certamente me acharia. Rodovia Ayrton Senna, Bandeirantes, Marginal, Ipiranga e Pç. Da República. Caminho curto, aparentemente. Após 1h30min chego na Praça, um dos grandes marcos da grande cidade, hoje conhecida por ponto de drogas e prostituição no coração do coração do país. Achei o hotel, encontrei meu velho, tudo certo.
Demorei para descobrir que São Paulo era mesmo grande: caminhava uma quadra e entrava num buraco de mais ou menos 5 andares subterrâneos, pegava um coletivo diferente que produzia um barulho alto e passados alguns minutos me diziam que eu estava do outro lado da cidade,5 andares subterrâneos ainda. No horário de pique (ou pico, como quiser) as pessoas te atropelam e não olham nem para o lado, é um comportamento um tanto quanto hostil mas que funciona muito bem nessas situações, aprendi logo. Outra coisa muito legal que vi por lá foi o 'Trolebus", o ônibus elétrico. É movido através da energia de cabos elétricos, dispostos durante o corredor. Ele fica preso nesses cabos e faz somente aquele caminho, com uma margem para desviar de eventuais obstáculos. Ecologicamente correto, aprovado por mim.
Centro de cidade grande sempre é algo engraçado à noitinha. Love Story se chamava o inferninho, alguns diziam que era o "Refugo de putas": faziam seus programas durante a noite e depois iam pra lá para se divertir. A festa, para se ter noção, começava às 4da manhã e só acabava com o sol alto, lá pelas 11 horas.
Do outro lado da rua o edifício residencial mais populoso do mundo, com mais de (pasmem!) 5 mil apartamentos. E por incrível que pareça, não encontrei muitos moradores e um movimento exacerbado. Muitas portarias e muitos porteiros. Tampouco entendi como eles cuidavam as câmeras de vídeo.
O trânsito é incrível. Não se usa a seta para pedir passagem. Usa-se para informar que está passando, quando muito se dá uma buzinadinha para alertar motoristas desavisados.
Por fim, novamente o ronco forte do motor numa noite nublada, tempestade no caminho. Estava cansado e,após o lanche, tentei dormir. Quando pegava no sono, um apito e minha cabeça batendo na janela. Turbulência das boas, todos com os cintos apertados (o que me parece não fazer a mínima diferença em caso de acidente). Não consegui mais dormir, tudo bem. Voar é um prazer.