quarta-feira, 26 de março de 2008

Esquina democrática

Porto Alegre é uma cidade legal, uma arquitetura bonita, paisagens naturais idem. Mas uma esquina sempre me instigou: a Esquina Democrática. Palco de manifestações políticas no passado, no presente e -provavelmente- no futuro, é um dos marcos portoalegrenses. Manifestações artístuicos-culturais também. Os maragatos, quando conquistaram Porto Alegre, entraram pela ponte da azenha e desceram até o centro. Para mim, pegaram a Borges e foram até a Andradas. O Borges de Medeiros ainda nem tinha nascido, mas isso não importa.
Lendo a série "Poemas no Ônibus", um dia desses indo para a faculdade, me deparei com um em especial:


Lá onde a Borges cruza a Andradas
A estátua é homem e a arte sobrevivência
Ma esquina famosa
um trocado move monumento
um trocado agradecimento
A estátua é capitalista
Mas a esquina é democrática



Pequena homenagem aos 236 do Porto mais Alegre dos gaúchos!

quinta-feira, 20 de março de 2008

Bom dia!

Acordo todos os dias no mesmo horário, ou quase no mesmo horário. Não importa se cinco minutos mais ou cinco minutos menos, basta eu colocar o pé no chão para o rádio da mãe começar a cantarolar nos meus ouvidos "Boooom dia!!! Boooom dia! bom dia pro sol da manhã, bom dia pros homens da terra, bom dia pra mãe natureza, bom dia pra quem não faz guerra!". Ouvir isso de manhã e não fazer guerra, não destruir o maldito rádio que berra nos teus ouvidos logo cedo já é um ato de autocontrole infindável. Saio de casa sempre no mesmo horário também, dez pras oito. Tiro o carro da garagem e me vou. Após uma semana inteira de estudo e trabalho, uma pelada no final de semana para descontrair. Estão sempre no mesmo lugar, como se ali tivesse seus nomes. A camiseta do clube também é sempre a mesma, se o time ganha é por causa dela. Se perde, é por não estar com ela. Também tenho a minha guerreira, datada de 1998, do xerife Dunga, mas nas decisões de campeonatos a do eterno Dom Elias Figueroa me acompanha na mão. "A grande área é a minha casa e nela só entra quem eu quero". Não acredito e não sou supersticioso. Mas que algumas coisas funcionam, funcionam!

quinta-feira, 13 de março de 2008

Despedida

Ela vai embora, mas isso não é necessariamente ruim. É que despedidas me remetem a alguma nostalgia. Ela vai embora e vai ficar mais perto, é estranho mas é bem assim.
- Isso não vai ser bem uma despedida, vai ser quase umas "boas-vindas".
-É, eu sei... mas mudança é sempre tão estranho!
-Se tu pensa que tu vai se livrar de mim, não vai não!
-E quem disse que eu reclamo? =D

A conversa não foi bem assim, mas isso não importa. O que importa é que ela esteja feliz com isso, torço muito por ela. Torço pela gente também, por essa amizade que cresce a cada dia. Ela é especial.

Sorte nessa nova fase, galega! Em breve a gente se vê!


Ah, e aquela veeeelha: "Lindos olhos!"

____ x ____

segunda-feira, 10 de março de 2008

Histórias reais, seres imaginários

Acontecia sempre antes de datas especiais. A festa pronta, o horário marcado, o noivo esperando.

-Amarildo, essas crianças não fazem nada direito! Olha só aquela gravata do Juninho...!
-Vem cá, Juninho, deixa o pai arrumar isso aí.
-E tu, Lucas, nem um copo tu lava, nem um copo! Agora vou ter que juntar essas bagunças todas.

O salão era invadido por convivas vorazes por festa e por comida liberada, era o assunto para o dia seguinte.

No carro, impaciente, o Marquinhos reclamava:

-Manhê, deixa essa louça e vamos embora, já estamos atrasados!

Mas a Marilúcia não se dava por vencida:

-Eu estou pronta desde às sete, vocês que deixam para se arrumar em cima da hora, aí já viu, é essa correria! É tudo culpa tua, Amarildo, que deu moleza e mimou esses guris, porque se dependesse de mim...

E não acabou a frase, nunca acabava.

Já aborrecida ela lamentava não ter conseguido ensinar tantas coisas aos filhos quanto gostaria.
Os filhos, já cansados e suados, após duas horas engomados naqueles paletós azuis escuro a uma temperatura de quase quarenta graus, lamentavam o fato de a mãe ainda não ter parado de reclamar, tampouco ter se aprontado.

-Não quero mais saber de festa! Se vocês quiser ir, tudo bem. Eu não vou.

E lá ia Amarildo em mais uma desuas missões impossíveis convencer Marilúcia.

Por fim, chegavam junto dos noivos -ou um pouco depois - e curtiam a festa. No dia seguinte falavam da festa, da comida e das roupas. Como é bom o clima de festa!

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"Tudo diretamente indireto!" - Michelle Moraes

quarta-feira, 5 de março de 2008

Confidência do Itabirano

Não é o itabirano, deDrummond, mas tem noventa por cento de ferro nas calçadas - a fachada. Seguramente não tem oitenta por cento de ferro na alma, mas a calçada o aparenta. Por longos anos, creio ter sido a segunda vez que o vi chorar ou, pelo menos, encher osolhos d'água. Estava preocupado e visivelmente sentido,sentia escolher-lhe o trabalho de uma vida, cambiando por algo inverto mas que, teoricamente, uniria a família. As coisas já não eram as mesmas, cada um com sua vida, no seu canto. Nãoera o desmoronamento de uma família, mas - quiçá- o início daformação de várias outras, quando a unidade familiar começa a se separar.
Senti sua emoção pelo modo tranquilo que falava, mais tranquilo e centrado que o normal, e pela voz que lhe falhava: coisa que nunca acontecera. Era um homem de ferro. Noventa por cento, só a calçada. Nasceu bem longe de Itabira, família do Rio Grande, querência querida, masdeve ter alguém de Itabira. Seus olhos molhados mecomoveram,chorei no meucanto, solitário e solidário. Prometi para mim mesmo que faria mais e melhor que ele. Dia desses encontrei um livro seu (e talvez tenha feito como o pai de Estevão, n'O Jardim do Diabo) e pensei ser para mim. Também era para mim: "Dê ao seu filho uma inteligência superior". Fazer o que ele fez, conseguir o que ele conseguiu,chegar onde chegou, é pouco para o que aquelas mãos calejadas da labuta e macias do carinho fez por nós. "Casei para ser pai". E foi.Sem dúvida o melhor que já tive, o mais correto, o mais belo. Transmitiu o legado da existência. Honrarei aqueles olhos úmidos quaisquer que sejam as minhas dores e vontade de chorar.