sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Encefaloespermia

Sábado passado no programa Altas Horas, da Globo, vi uma série de artistas de renome cantando num teatro tradicional aqui de Porto Alegre, o Theatro São Pedro. Marco cultural do estado, e por quê não dizer da região sul ou do país?!, completou 150 anos esse ano. Mas mesmo com esses anos todos, teve que passar por uma situação constrangedora durante o programa televisivo: aguentar o Chorão do Charlie Brown defecando suas "canções e poesias". Mas o mais dolorido para mim foi ouvir ele gritar "Vamo fazê barulho nessa porra". Como assim "nessa porra"?! Um lugar de credibilidade, de respeito, passar por uma situação dessas. O lugar de falar "porra", "caralho" e afins, definitivamente não são naquelas bandas.
Mas tudo bem, a instituição é maior que isso. O professor Jones tinha razão, algumas pessoas sofrem de encefaloespermia, ou "porra na cabeça", como preferir.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Minha comemoração de aniversário com os amigos veio na semana seguinte ao meu aniversário. E de forma surpresa. Mas como quem surpreende pode também ser surpreendido, cheguei com aproximadamente cinco horas de atraso. Atrasos meus são incomuns, deve ter sido apenas um ajuste nos ponteiros de um relógio biológico com pontualidade britânica, como o meu. À toa, ainda no colégio, ganhei o posto de tartaruga (ou tartaruguinha, para os íntimos) mesmo sem nunca ter endendido o motivo. Como ambientalista chato e fervoroso que todos sabem que sou, minha festa tinha faixa verde, balão verde, biscoitos verdes e, inclusive, a massa do bolo era verde. Sem contar os presentes: chás de capim-cidreira, folhagens da sorte, lápis verdes e até -pasmem!- um coco. Esse último com um rosto desenhado e escrito VILSON, a versão traduzida do "Wilson-bola-de-baseball" d'O Náufrago. O Vilson, segundo acordo firmado, é meu talismã para o vestibular. Enfim, tudo era verde. Os convidados também vestiam verde. E não me surpreenderia se tivessem seus rostos verdes, esses amigos são de outro planeta.

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Temos um acordo implícito e não-verbal. Eu finjo não saber de nada e ela finge que eu não sei. "Era o capítulo da novela" foi o nosso código. Mais que isso foi uma barreira, uma imposição sobre o assunto. Existiram dados divergentes que eu percebia, mas como era o capítulo da novela, eu não contestava, fazia parte do acordo que nunca fora firmado. Até hoje só falei para uma pessoa, aos prantos. E não consegui falar tudo, soluçava. Não quero reabrir um assunto do passado, quiçá antes da minha existência, embora seja de meu interesse também. O fato é que isso às vezes me perturba, faltam laços para juntas todas as pontas da vida. Sei também que algo se passou comigo, mas não consegui ouvir nitidamente o que era, só sei que se explica muita coisa. Não fossem elas tão unidas, já teria dado um jeito de descobrir, mas tenho medo de machucá-las.

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

Fala, mãe!

Se tem alguma coisa que mãe gosta de fazer é falar mal dos filhos. Falar mal para as amigas, falar mal para as amigas das amigas. Não que seus filhos sejam de caráter duvidoso, é que elas sentem prazer nessa confraternização amistosa. O mais engraçado é que elas relatam as mesmas coisas umas para as outras e chegam à maravilhosa conclusão de que uma geração inteira está perdida. E logo essa, que foi livre de repressão, que pôde falar aquilo que pensava sem ser perseguido por uma ou outra autoridade. Logo essa, que sempre teve tudo de "mão-beijada", que estudou e que teve apoio paterno. Logo essa juventude, que se esbalda em coisas fugazes, que joga dinheiro pra cima sem saber o seu valor. Logo essa, logo essa.
Charles Kieffer, um baita escritor, disse em Caminhando na Chuva (como é bom caminhar na chuva!) que a vida era redonda: o homem caga no rio, o peixe se alimenta no rio e o homem se alimenta do peixe. Não que suas verdades sejam universais, mas concordo que a vida seja redonda. Fizemos as mesmas coisas que nossos pais, dadas as devidas proporções, que por sua vez fizeram o mesmo que nossos avôs, que por sua vez.. Que por sua vez... Que por sua vez... A vida é redonda.
Se falarmos com historiadores novatos dirão que a vida é espiral e começarão a filosofar sobre a luta de classes, de um tal de Marx.
Os sociólogos entrarão em êxtase defendendo as idéias de Augusto Comte.
A minha matemática derivará sucessivas funções e calculará limites. A Maria do Horto (grande mestra!), novamente, chamará a SAMU.
Mas as nossas mães, elas reclamarão!