quarta-feira, 5 de março de 2008

Confidência do Itabirano

Não é o itabirano, deDrummond, mas tem noventa por cento de ferro nas calçadas - a fachada. Seguramente não tem oitenta por cento de ferro na alma, mas a calçada o aparenta. Por longos anos, creio ter sido a segunda vez que o vi chorar ou, pelo menos, encher osolhos d'água. Estava preocupado e visivelmente sentido,sentia escolher-lhe o trabalho de uma vida, cambiando por algo inverto mas que, teoricamente, uniria a família. As coisas já não eram as mesmas, cada um com sua vida, no seu canto. Nãoera o desmoronamento de uma família, mas - quiçá- o início daformação de várias outras, quando a unidade familiar começa a se separar.
Senti sua emoção pelo modo tranquilo que falava, mais tranquilo e centrado que o normal, e pela voz que lhe falhava: coisa que nunca acontecera. Era um homem de ferro. Noventa por cento, só a calçada. Nasceu bem longe de Itabira, família do Rio Grande, querência querida, masdeve ter alguém de Itabira. Seus olhos molhados mecomoveram,chorei no meucanto, solitário e solidário. Prometi para mim mesmo que faria mais e melhor que ele. Dia desses encontrei um livro seu (e talvez tenha feito como o pai de Estevão, n'O Jardim do Diabo) e pensei ser para mim. Também era para mim: "Dê ao seu filho uma inteligência superior". Fazer o que ele fez, conseguir o que ele conseguiu,chegar onde chegou, é pouco para o que aquelas mãos calejadas da labuta e macias do carinho fez por nós. "Casei para ser pai". E foi.Sem dúvida o melhor que já tive, o mais correto, o mais belo. Transmitiu o legado da existência. Honrarei aqueles olhos úmidos quaisquer que sejam as minhas dores e vontade de chorar.

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